domingo, 17 de novembro de 2013

Os Sete Estágios de Deus



O Deus de qualquer religião é apenas um fragmento de Deus. Isso deve ser verdade, porque um ser que é ilimitado não possui nenhuma imagem, nenhum papel a representar, nenhuma localização dentro ou fora do cosmo, ao passo que as religiões oferecem muitas imagens: pai, mãe, legislador, juiz, senhor do universo. Existem sete versões de Deus, que podem ser associadas a doutrinas religiosas organizadas. Cada uma é um fragmento, mas tão completo a ponto de criar um mundo único:

  • Estágio um: Deus, o Protetor
  • Estágio dois: Deus, o Todo-Poderoso
  • Estágio três: Deus da Paz
  • Estágio quatro: Deus, o Redentor
  • Estágio cinco: Deus, o Criador
  • Estágio seis: Deus dos Milagres
  • Estágio sete: Deus do Ser Absoluto - “Eu Sou”

Cada estágio atende a uma determinada necessidade humana, o que é perfeitamente natural. Diante das forças avassaladoras da natureza, os seres humanos precisaram de um Deus que os protegesse. Quando achavam que haviam transgredido a lei ou cometido um delito, as pessoas se voltavam para um Deus que por um lado iria julgá-los e por outro iria perdoar seus pecados. Desse modo, exclusivamente por interesse próprio, o projeto de criar Deus à nossa própria imagem teve seguimento, e continua tendo.

Diversos desses estágios, como o Redentor e o Criador, soam familiares em relação à Bíblia e agora que o budismo se tornou mais popular no Ocidente, o estágio final, onde Deus é experimentado como silêncio eterno e ser absoluto, já não parece tão estranho quanto um dia teria parecido. Nenhum estágio é absoluto em sua pretensão à verdade. No entanto, cada um implica um relacionamento diferente. Se você vê a si mesmo como um dos filhos de Deus, então o relacionamento dele com você será de um protetor ou um legislador; esse relacionamento muda se você vê a si mesmo como um criador, nesse caso, você começa a compartilhar algumas funções de Deus. Você se coloca mais ou menos no mesmo nível, até que finalmente, no estágio de “Eu Sou”, o mesmo ser absoluto é comum tanto a Deus quanto aos seres humanos. Na progressão do primeiro estágio para o sétimo, a ampla lacuna entre Deus e seus seguidores se torna cada vez mais estreita e por fim desaparece. Portanto, podemos dizer que estamos sempre criando Deus a nossa imagem por uma razão maior do que a vaidade; queremos trazê-lo para perto de nós, alcançar uma intimidade. No entanto, quer você veja Deus como um juiz poderoso que pune ou uma fonte benigna de paz interior, ele não é exclusivamente isso.

Para um ateu, todas as formas de divindade constituem uma projeção falsa, pura e simplesmente. Atribuímos características humanas a Deus, como misericórdia e amor, colocamos essas características em um altar e passamos a rezar para elas. Toda imagem de Deus, portanto, inclusive as mais abstratas, é completamente vazia (abstratas como o Deus do islamismo e do judaísmo ortodoxo, os quais não podem ser retratados com feições humanas). Segundo o ateu, a religião é a derradeira ilusão, já que estamos apenas adorando a nós mesmos indiretamente.

Há duas maneiras de responder a essa acusação. A primeira é o argumento de que um Deus infinto deveria ser adorado de todas as formas; a segunda é o argumento de que Deus deve ser abordado por etapas, pois em caso contrário jamais conseguiríamos transpor a enorme lacuna entre eles e nós. Considero o segundo argumento mais convincente. A menos que possamos ver a nós mesmos no espelho, jamais veremos Deus ali. Considere novamente a lista e verá como Deus varia em respostas a situações bastante humanas:

Deus é um protetor para aqueles que se sentem em perigo.
Deus é onipotente para os que desejam o poder (ou não dispõem de nenhum modo de obter poder).
Deus traz paz àqueles que descobriram seu próprio mundo interior.
Deus perdoa àqueles que têm consciência de ter cometido um pecado.
Deus é o criador quando nos perguntamos de onde veio o mundo.
Deus está por trás dos milagres quando as leis da natureza são repentinamente revogadas sem aviso prévio.
Deus é a própria existência, “Eu Sou”, para aqueles que atingem o êxtase e uma sensação de ser absoluto.

Em nossa busca pelo Deus único e absoluto, perseguimos o impossível. A questão não é quantos deuses existem, mas até que ponto nossas próprias necessidades podem ser espiritualmente satisfeitas. Quando alguém pergunta: “Deus realmente existe?”, a resposta mais legítima é: “Quem está perguntando?” A pessoa que percebe está intimamente ligada às suas percepções. O fato de destacarmos características como compaixão e amor, julgamento e salvação, demonstra que somos forçados a conferir a Deus atributos humanos, o que é perfeitamente adequado se essas características vêm do próprio Deus. Em outras palavras, um círculo une o humano e o divino.

Do nível virtual, que é nossa fonte, as qualidades do espírito fluem até nos atingir no mundo material. Experimentamos esse fluxo como nossos próprios impulsos interiores, o que também é perfeitamente adequado, porque para cada estágio de Deus existe uma reação biológica específica. O cérebro é o instrumento da mente, mas um instrumento muito convincente. Tudo que sabemos a respeito do cérebro é que ele cria nossa percepção, nosso pensamento e nossas atividades motoras. Mas essas são criações poderosas. No plano material, o cérebro é nossa única maneira de registrar a realidade e o espírito tem que ser filtrado através da biologia.

Ninguém utiliza todo o cérebro de uma vez. Nós selecionamos de uma gama de mecanismos internos que se relacionam diretamente com a experiência espiritual:

1. Reação de lutar ou fugir
2. Reação de agir
3. Reação de consciência em repouso
4. Reação intuitiva
5. Reação criativa
6. Reação visionária
7. Reação sagrada

Lutar ou fugir é uma reação primitiva, arcaica, para nos protegermos, herdada dos animais. Ela energiza o corpo para enfrentar os perigos e ameças externas. É o reflexo que faz com que uma mãe entre numa casa em chamas para salvar um filho.

A reação de agir nos faz defender nosso ego e suas necessidades. Quando competimos e buscamos nos elevar acima dos demais, automaticamente prestamos atenção ao “eu” em vez de ao “outro”. É o reflexo que alimenta a bolsa de valores, os partidos políticos e os conflitos religiosos.

A consciência em repouso é o primeiro passo de desligamento das forças externas. Essa reação traz a serenidade interior diante do caos ou de ameaças. Recorremos a ela através da prece e da meditação.

A reação intuitiva apela ao mundo interior por mais do que paz e tranquilidade. Buscamos respostas e soluções. Esse estado está associado a sincronicidade, lampejos de insight e despertar religioso.

A reação criativa rompe com os velhos padrões. Abandona o conhecimento para explorar o desconhecido. A criatividade é sinônimo de fluxo de inspiração.

A reação visionária engloba um “eu” universal, em vez de o ego isolado. Estende-se além de todas as fronteiras e não é determinada pelas leis da natureza que limitam os estágios anteriores. Os milagres se tornam possíveis pela primeira vez. Esta reação guia profetas, videntes e aqueles que curam.

A reação sagrada é completamente livre de toda limitação. É experimentada como bem-aventurança absoluta, inteligência absoluta, ser absoluto. Neste estágio Deus é universal e a pessoa também o é. Esta reação identifica os completamente iluminados de cada época.

Cada um desses mecanismos é uma reação natural do sistema nervoso humano e todos nós nascemos com a capacidade de experimentá-los. Diante do perigo, uma explosão de adrenalina cria a necessidade irresistível de fugir ou de ficar e lutar. Quando essa reação é desencadeada, todo o tipo de alterações ocorrem na fisiologia, inclusive batimentos cardíacos acelerados,  respiração entrecortada, pressão arterial elevada etc. Mas se nos sentarmos para meditar, não será esse o estado do sistema nervoso, longe disso. Os mesmos indicadores que se elevaram em lutar ou fugir agora se apresentam diminuídos e a sensação subjetiva é de paz e serenidade.

O cérebro  reage de forma única em cada fase da vida espiritual. A pesquisa científica é incompleta nos estágios mais altos do crescimento interior, mas sabemos que para onde quer que o espírito conduza, o corpo o segue. Pessoas que curam pela fé realmente existem e transcendem a explicação médica. Observou-se que os santos de quase todas as religiões vivem com pouco ou quase nenhum alimento (muitos declaram que sobrevivem unicamente com a luz de Deus). As visões de Deus foram tão verossímeis que sua sabedoria comoveu e guiou as vidas de milhões de pessoas; atos extraordinários de altruísmo e compaixão provam que a mente não é governada apenas pelo interesse pessoal.

Selecionamos uma divindade com base em nossa interpretação da realidade e essa interpretação tem origem na biologia. Os antigos profetas védicos resumiam a questão de forma bastante direta: “O mundo é como nós somos”. Para alguém que viva em um mundo de ameaças, a necessidade de lutar ou fugir é absoluta. Diz respeito a um homem de Neanderthal enfrentando um tigre de dentes-de-sabre, um soldado nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial ou um motorista frustrado, desesperado com o trânsito.

O fato de nascermos com o potencial de ir da simples sobrevivência à consciência de Deus é o traço  admirável que distingue o sistema nervoso humano em relação ao de todas as outras criaturas. É inegável que o crescimento interior completo é um enorme desafio. Se você está preso no trânsito, o sangue fervendo de frustração, qualquer pensamento superior é bloqueado. Naquele momento, sob o efeito da adrenalina, você se sente confinado e impotente.

Em uma situação diferente, quando está competindo por uma promoção no trabalho, você vê a situação sob o ponto de vista do ego. Agora a sua ansiedade não tem haver com sobrevivência (que está na base da reação de lutar ou fugir dos animais), mas em progredir. Mais uma vez, as reações superiores são bloqueadas; você arruinaria as suas chances se parasse de competir e sentisse apenas amor pelos outros candidatos ao cargo.

Altere a reação outra vez e esse ponto de vista também desaparecerá. Ao ver um noticiário sobre crianças morrendo na África ou uma guerra desnecessária em algum lugar distante, você pode desejar encontrar uma solução criativa para o problema ou pode simplesmente refletir internamente sobre a falta de sentido do sofrimento. Essas reações superiores são mais sutis e mais delicadas. Também dizemos que são mais espirituais, mas em qualquer situação o cérebro está reagindo no seu nível mais alto. O mistério maior consiste em nossa capacidade de nos elevarmos do instinto animal à santidade. 

Apesar da enorme flexibilidade do sistema nervoso, adquirimos hábitos e padrões repetitivos por confiarmos em velhas impressões. Isso é principalmente verdade no que diz respeito às nossas crenças. Em toda religião há o mesmo traço de medo sempre que uma pessoa julga que o mundo está dominado por ameaças, perigos e pecados. Entretanto, toda religião também contém a característica de amor quando o mundo é visto como abundante, amoroso e carinhoso. Tudo é projeção. Temos o direito de venerar o amor, a compaixão, a piedade, a verdade e a justiça no nível transcendental, assim como temos o direito de temer o julgamento divino. Se você aceitar que o mundo é como nós somos, será lógico aceitar que Deus é como nós somos.

  • Deus, o Protetor corresponde a um mundo de mera sobrevivência, repleto de ameaças físicas e perigo.
  • Deus, o Todo-Poderoso corresponde a um mundo de ambição e lutas pelo poder, dominado por uma feroz competição.
  • Deus da Paz corresponde a um mundo de solidão interior onde a reflexão e a contemplação são possíveis.
  • Deus, o Redentor corresponde a mundo onde a crescimento pessoal é encorajado e os insights são frutíferos.
  • Deus, o Criador corresponde a um mundo que está constantemente se renovando, onde a inovação e a descoberta são valorizadas.
  • Deus dos Milagres corresponde a um mundo que compreende profetas, videntes, onde a visão espiritual é cultivada.
  • Deus do Ser Absoluto, “Eu Sou”, corresponde a um mundo que transcende todas as fronteiras, um mundo de possibilidades infinitas.

O surpreendente é que o sistema nervoso humano possa atuar em todos esses planos. Nós não navegamos por essas dimensões simplesmente, nós as exploramos, combinamos e criamos novos mundos à nossa volta. Se você não compreender que é multidimensional, toda a noção de Deus se desfaz.

Como uma criança que cresce, temos que evoluir para uma visão mais completa, até o dia em que possamos ver o todo, como Deus. Nossos reflexos contam nossa própria história ao longo do caminho, geralmente de forma simbólica como nos sonhos.

A própria realidade pode ser apenas um símbolo para a maneira de agir da mente de Deus e, nesse caso, a crença “primitiva”, encontrada em todo o mundo antigo e pagão, de que Deus existe em cada folha de capim, cada criatura e até mesmo na Terra e no céu, pode encerrar a mais alta verdade. Chegar a essa verdade é o propósito da vida espiritual e cada estágio para Deus nos leva em uma jornada cujo destino final é a lucidez absoluta, uma sensação de paz que nada pode perturbar.


Fonte: "Como Conhecer Deus, a jornada da alma ao mistério dos mistérios" - Deepak Chopra

sábado, 9 de novembro de 2013

A Vinda de Avatares à Terra




De acordo com o pensamento hindu, já houve muitas descidas no sentido avatárico de um ser Iluminado à Terra. Eles são conhecidos como profetas, santos, Deuses, e assim por diante. Cada um deles está consciente, em algum grau, de sua identidade com Deus. As escrituras hindus deixam claro que esses raios do Divino variam em brilho e, portanto, em seu impacto sobre o destino de todos os seres aqui na Terra.

Contudo, cada um tem seu importante trabalho a fazer, conduzindo a humanidade em direção à verdade. O filósofo desencarnado conhecido como Seth os chama de “oradores”, e concorda com as afirmações dos antigos livros de que eles têm estado entre nós regularmente através das lendárias e esquecidas eternidades do passado.

Nesta galáxia de mestres autodidatas, aparece de tempos em tempos uma estrela brilhante que se torne conhecida como um avatar maior. Ele é um avatar evolucionário que chega no momento exato para dar a humanidade um novo impulso em sua evolução. Este momento coincide com uma situação em que as forças retrógradas parecem estar dominando, e a humanidade parece destinada à destruição total. O avatar pleno, nos ajuda a passar pela grande crise, permitindo-nos aprender através do seu sofrimento e viver uma nova revelação. Parece que somente a própria mão de Deus pode salvar o barco humano das rochas da destruição e guiá-lo para uma rota segura.

Algumas pessoas, existem muitas delas, não acreditam que um Avatar de Deus seja necessário, nem mesmo possível. Elas acham que de Seu estado transcendente nas alturas, o que quer que isto signifique, Deus pode localizar as forças escuras que estejam trabalhando contra o plano divino, pôr as coisas em equilíbrio de novo e nos colocar no caminho certo.

Todas as coisas são possíveis ao Deus onipotente, é claro, e Seus caminhos e métodos estão além de nosso entendimento. No entanto, muitos dos que mergulharam no fundo da metafísica deste vasto assunto, dos tempos antigos até hoje, acreditam que os maiores e mais poderosos avatares participaram do drama cósmico. Sai Baba coloca isso de forma simples: “Você tem que pular na água para salvar quem está se afogando”. O sábio e poeta Aurobindo de Pondicherry escreveu sobre a necessidade de avatares:

"Aquele que fizesse os céus baixarem
Deverá descer Ele próprio ao barro
e o fardo da natureza terrena suportar
e trilhar o doloroso caminho".

Colocando tais difíceis conceitos de lado a experiência mostra que, de tempos em tempos, aparece na Terra alguém mais humano, alguém cujos poderes sobre-humanos e natureza sublime são claramente demonstrados a todos que passam algum tempo com ele. Essas pessoas grandiosas têm um impacto tremendo sobre as pessoas de suas épocas, sendo muito amadas por alguns e muito odiadas por outros. E assim, evidentemente, tornam-se figuras controversas. Jesus Cristo foi uma delas.


Fonte: "Trilhando o caminho com Sai Baba" - Howard Murphet